Aos escritores: como lidar com as críticas.

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James K. A. Smith é um renomado intelectual, mas seus métodos parecem se adequar mais ao que ele chama de Pós-Moderno, no sentido de um quase agnosticismo. Fez críticas pesadas a Carson em seu livro “Who’s afraid of Postmodernism?”, afirmando que Carson não compreendeu de fato o que falou sobre verdade objetiva. Carson faz uma réplica monstruosa, bem humorada e respeitável, afirmando que Smith leu mal seu livro “Gagging of God” e que sua afinidade com alguns elementos da Pós-Modernidade o impossibilitou de ver que é impossível fugir de algumas categorias da Modernidade, precisamente, para dizer que seu discurso é verdadeiro, “de certeza”. A tensão entre dois gigantes da intelectualidade cristã devem nos alertar para algumas coisas:

1). Devemos tomar o máximo de cuidado em verificar se o que escrevemos corresponde de fato à realidade, se não fomos traídos por nosso inconsciente, se há coesão, coerência e honestidade em nosso escrito.

2). Revisão é palavra de lei. Ler e reler nossos escritos antes de publicá-los é imprescindível.

3). Em certas ocasiões e em certos tipos de escritos, precisamos da revisão e análise de estudiosos, gramáticos e pessoas de gabarito intelectual para averiguar algumas possíveis fraquezas em nosso escrito.

4). Tal revisão não implica dizer em acatar todas as sugestões do revisor. Afinal, o texto é nosso. No entanto, serve para nos fazer abrir os olhos para erros diversos e fraquezas recorrentes nos escritos de seres humanos normais.

5). Mesmo depois de escrito, revisado, reescrito e publicado, qualquer texto está sujeito ao escrutínio da crítica. Já sabe: publicou, deu a cara a tapa. É preciso ter maturidade para receber o elogio e ao mesmo tempo para receber a réplica mais contundente.

6). Tal maturidade reside no fato de compreender que o seu texto mesmo sendo uma obra acabada, não necessariamente está 100% em correspondência com realidade. Você e eu podemos publicar algo cuja tese seja errada, cujas premissas sejam equivocadas, sem aplicabilidade e cheio de incoerências. Reler nossa obra como um resenhista é um bom exercício de humildade. Esfaqueie-se antes de receber as facas dos outros. Isto o tornará mais sensível para receber críticas.

7). Uma vez feito isto, a recepção das réplicas deve ser analisada com cautela e atenção. As respostas às réplicas podem ser realizadas em correspondência pessoal com o crítico ou mediante novos artigos ou, caso haja, na segunda edição do livro em questão.

8 . Nos comentários prévios, mediante os amados irmãos que são velozes em colher opiniões de opositores, pondere antes de tentar refutar. Ouça o argumento do opositor e tente primeiramente ver o que de verdadeiro há nele. Agradecer ao emissor da informação do crítico pela boa notícia, mas não perder as estribeiras. Ao invés de avaliar o teor geral da obra do replicante, concentre-se meramente na forma como ele se reporta ao seu trabalho. Isto pode evitar um argumento ad hominen.

9). Se percebeu que houve alguma inconsistência real em sua obra, você pode escrever uma introdução ou prefácio mais extenso reformulando melhor seus termos, afirmando que a forma original gerou mal entendidos, deixando claro que esta refinação explica melhor o que você afirmara e que pesquisas adicionais deram mais suporte à mesma.

10). Se percebeu que cometeu um erro gravíssimo em publicar tal livro, você pode reconhecer isso publicamente (o que não é vergonhoso, pelo contrário é libertador), pois afinal, seu compromisso não é com sua fama, mas com a verdade. Observe como os grandes debatem em seus livros, reconhecem seus erros e desmerecem muitas vezes publicações prévias. Escreva um novo livro, fazendo uma pesquisa maior, no afã de dialogar com o seu livro prévio, aproveitando ferramentas úteis e verdadeiras dentro da tese errada e canalize-as para o fato de que não fosse o erro crasso do primeiro livro, você jamais poderia ter chegado a uma descoberta de valor neste novo escrito.

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